segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A vítima conformista

Passava agosto e era ali que Luís resolvera passar a sua tarde de domingo.
Ali, sentado no cantinho do café, apercebia-se do quão amarga se tinha tornado a sua vida, e isso não se devia apenas à falta de açúcar no café naquele dia.

Ali, sentado a ver o tempo passar e a controlar (embora inconscientemente) quem entrava e quem saía do café, esperava ganhar coragem para regressar a casa e encontrar a mulher.
Aquele sítio que deveria ser por si acarinhado, e para o qual tanto trabalhara, tornara-se negro e quase impossível de suportar, regado pelas constantes crises da parceira que, muitas vezes, não se inibia de inflamar tal como uma pequena farpa incandescente é capaz de inflamar gasolina.

Para Luís, tornara-se quase impossível voltar a confiar em Eduarda depois de tudo o que ela lhe fizera, mas bastava vê-la chorar e implorar para que tudo regressasse ao mesmo para que ousasse esquecer o coração que lhe fora magoado por várias e repetidas vezes, independentemente das acusações e dos boatos espalhados.

Luís, no entanto, acredita que é uma vítima. Que, desde que nasceu, todas as suas escolhas acabam por fazer dele uma vítima.

Luís acredita que é bom demais e que é demasiado paciente. Até porque se não fosse paciente, não decidiria passar uma linda tarde de sol no cantinho do café a ver a vida passar-lhe ao lado... tentando ganhar coragem para tomar as rédeas da sua própria vida, insistindo em pensar que é vítima em vez de considerar a ideia de que é apenas conformado.


1 comentário:

  1. Sabes como é que se costuma dizer "falar é fácil, difícil é fazer", e neste caso é isto mesmo, além de que as mudanças normalmente assustam as pessoas.

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